Por Priscylla Silva
Escassez de profissionais impulsiona mudanças para médicos atuarem nos Estados Unidos.
O médico Naeem Moulki é cidadão sírio e trabalha em um hospital em St. Paul, Minnesota Foto: Jenn Ackerman/The New York Times
Os Estados Unidos vivem uma crise prolongada na área da saúde, marcada pela falta de médicos em diversas regiões, principalmente nas zonas rurais e nos estados menos populosos. A estimativa é que, até 2036, o país possa ter um déficit que ultrapasse dezenas de milhares de profissionais, afetando diretamente a capacidade de atendimento da população.
Para tentar conter o problema, o governo e diversas entidades do setor vêm implementando medidas que facilitam a entrada e o exercício da medicina por estrangeiros qualificados. A carência crescente tem transformado a imigração médica em uma das principais soluções em debate no país.
Médicos estrangeiros ganham espaço
Uma das mudanças mais significativas é a possibilidade de profissionais formados fora dos Estados Unidos exercerem a medicina sem a obrigatoriedade de realizar uma nova residência médica no país, desde que cumpram critérios específicos. Entre eles, estão a aprovação em exames de qualificação, a validação da instituição de formação e a comprovação de experiência clínica.
O objetivo é acelerar o ingresso desses profissionais em regiões que enfrentam escassez severa de atendimento, como áreas rurais e cidades menores, que há anos sofrem com a falta de médicos locais. Essa flexibilização representa um alívio para muitos estrangeiros, que antes precisavam enfrentar um longo e caro processo de revalidação e especialização.
Crescente interesse de brasileiros
A nova política tem despertado o interesse de médicos brasileiros, que veem nos Estados Unidos uma oportunidade de crescimento profissional, melhores condições de trabalho e salários mais atrativos. O movimento reflete uma tendência global de migração de profissionais da saúde em busca de valorização e estabilidade.
No entanto, o processo ainda exige preparação: a validação do diploma, a fluência no inglês técnico e a adaptação às normas e protocolos norte-americanos são etapas obrigatórias antes de atuar oficialmente.
Apesar do entusiasmo, há questionamentos sobre os impactos dessas medidas. Especialistas alertam que dispensar a residência obrigatória pode gerar preocupações com a qualidade do atendimento, uma vez que a formação médica varia entre os países.
Para evitar riscos, alguns estados norte-americanos exigem que o médico estrangeiro atue sob supervisão por um período de adaptação, antes de receber a licença plena. Outros preferem liberar a atuação apenas em comunidades carentes, como contrapartida à autorização especial.
Além disso, um novo aumento proposto nas taxas do visto H-1B, usado por médicos estrangeiros, pode representar um obstáculo adicional. Se aprovado, o custo do processo migratório pode se tornar inviável para muitos candidatos.
Outro ponto debatido é o impacto no país de origem desses profissionais. O Brasil, por exemplo, corre o risco de enfrentar um esvaziamento de talentos, especialmente em áreas onde a falta de médicos já é crítica. Esse fenômeno, conhecido como “fuga de cérebros”, reacende a discussão sobre como equilibrar a mobilidade internacional com as necessidades locais.
Perspectivas futuras
O tema ganhou força no Congresso norte-americano, onde tramitam projetos que buscam ampliar o número de vistos e facilitar a permanência de profissionais de saúde estrangeiros no país. Há também propostas para criar licenças temporárias e revisões nas exigências estaduais, adaptando as normas à realidade atual do mercado médico.
Enquanto isso, especialistas defendem que a solução definitiva passa por aumentar o número de vagas em programas de residência nos EUA e incentivar a formação de médicos locais. Ainda assim, a presença de estrangeiros deve continuar sendo um pilar importante para suprir a demanda a curto e médio prazo.
A escassez de médicos nos Estados Unidos tem aberto portas para profissionais estrangeiros e impulsionado mudanças profundas nas políticas de imigração e licenciamento. Para muitos brasileiros, trata-se de uma chance de carreira promissora. Porém, o desafio está em equilibrar a necessidade urgente de reforçar o sistema de saúde norte-americano com a garantia de qualidade e a preservação dos quadros médicos nos países de origem.
//Fontes: Nossa Gente, AG Immigration, Federação Brasileira de Hospitais, Reuters, HealthBeat, AHA, AMA, AAMC.