A catástrofe que se abateu sobre o estado do Rio Grande do Sul ainda perdura, para desolação dos gaúchos e por conseguinte dos demais brasileiros. A tragédia deflagrou uma onda de solidariedade poucas vezes vista devido à magnitude da devastação causada pelas enchentes nas cidades gaúchas e também em Porto Alegre.
Pois é justamente na capital do estado que estão duas potências do futebol brasileiro: Internacional e Grêmio. Os dois clubes têm em suas salas de troféus várias conquistas obtidas nos mais de cem anos de existência. Porém, infelizmente, seus estádios e centros de treinamento estão totalmente fora de condição para uso esportivo. Na verdade, estão sendo usados para abrigar os flagelados que perderam suas casas e seus eletrodomésticos. Muitos jogadores têm inclusive sido efetivos no resgate das vítimas, seja emprestando jet skis, como é o caso de Diego Costa, seja transportando pessoas nas costas, como é o caso de Thiago Maia.
Enfim, não vale a pena discorrer sobre esse dilúvio e suas consequências para a população gaúcha. No entanto, diante dessa impossibilidade de se disputar partidas de futebol, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) decidiram suspender as partidas programadas para os três clubes do Rio Grande do Sul e disputá-las em outras datas. Essa decisão, porém, provocou uma onda de protesto por parte da mídia esportiva do Rio Grande do Sul que passou a exigir a suspensão temporária das competições em solidariedade ao drama vivido por Internacional, Grêmio e Juventude, sediado em Caxias do Sul – cidade também atingida pelas inundações.
A CBF adotou uma postura de procrastinar a solução do problema ao marcar uma reunião do Conselho Técnico da entidade com a presença de representantes dos clubes em 27 de maio para decidir quais medidas devem ser adotadas. Essa decisão foi ironizada pelos dirigentes dos clubes gaúchos que salientaram não haver nenhuma compaixão em relação ao atual momento de emergência vivido pelos seus filiados que estão no Rio Grande do Sul.
Com o prolongamento dessa situação calamitosa, houve uma divisão entre os clubes participantes da Série A. Na segunda-feira (13), os 11 clubes da Liga Forte União se manifestaram publicamente pedindo a suspensão do Brasileirão. Eles ganharam o reforço de Atlético-MG, Bahia, Grêmio e Vitória. Segundo a CBF, Corinthians, Flamengo, Palmeiras, Red Bull Bragantino e São Paulo não defenderam a paralisação. No entanto, o Bragantino afirmou ter enviado um ofício à entidade na manhã da quarta informando ser favorável à suspensão. Diante desse apelo, a CBF determinou o adiamento da sétima e da oitava rodadas do Brasileirão, que deve ser retomado a partir de primeiro de junho.
Os dirigentes dos clubes que defenderam o prosseguimento da competição alegam que a suspensão do Campeonato Brasileiro em nada vai ajudar as vítimas da tragédia. Pelo contrário, segundo eles, o futebol possui uma incrível capacidade de arregimentação de pessoas e dessa forma seria um excelente canal para coletar doações e fazer outras ações em benefício das vítimas. Enfatizaram também que isto causará prejuízo para as outras equipes, uma vez que ficarão sem arrecadar dinheiro para arcar com seus compromissos financeiros, sobretudo com o pagamento de atletas e funcionários.
Apesar de ter respeitado a democracia, em razão de a maioria dos clubes terem optado pela paralisação temporária, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, afirmou em Bangkok, na Tailândia, temer pelas consequências dos adiamentos das partidas anteriores e por essa paralisação, uma vez que isso impactará significativamente no calendário da CBF. A entidade terá de recompor o calendário para acomodar as partidas adiadas a fim de cumprir o calendário programado, pois ele revelou não ter intenção de transferir o final do Brasileirão para o início de 2025.
Paralelamente a isso, a Conmebol tem sido mais inflexível. Embora tenha aceitado adiar duas rodadas dos jogos do Grêmio pela Libertadores e do Internacional pela Sul-Americana, essa entidade responsável pelo futebol na América do Sul alertou que as duas equipes precisam entrar em campo no final de maio e jogar as partidas adiadas no início de junho. Caso não seja possível, elas serão excluídas dos torneios e terão suas vagas asseguradas para as competições em 2025.
Evidentemente, os clubes precisarão se deslocar para outros locais a fim de cumprir seus compromissos. Os principais clubes rivais colocaram seus centros de treinamento e estádios à disposição para eles realizarem as preparações, treinos e jogos durante o período em que suas instalações estiverem interditadas – algo que deve demorar pelo menos dois meses.
Durante a realização do Conselho Técnico, serão discutidas as ações a serem tomadas em prol das três agremiações afetadas pela tragédia. Vale a pena lembrar que os jogos de volta da Copa do Brasil deverão ser disputados normalmente na última semana de maio. Nesse torneio, além de Inter e Grêmio também está participando o Ypiranga de Erechim, que inclusive derrotou em casa o Athletico-PR, atual líder do Brasileirão.
Aliás, vale a pena lembrar que a determinação da CBF refere-se somente à Série A do Brasileirão. Na Série B, não há nenhum clube gaúcho participando, porém, há representes nas Séries C e D. Enfim, se normalmente há muitas queixas em relação ao calendário desumano do futebol brasileiro, em 2024 o rearranjo das partidas tornará o Campeonato Brasileiro em algo totalmente insano.//AUSA