Por Priscylla Silva
Presidente brasileiro busca reaproximação diplomática e alívio para exportadores com sobretaxa de 40% em produtos nacionais.
Em um gesto diplomático de retomada de diálogo bilateral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na manhã desta segunda-feira (6), com o objetivo explícito de negociar a devolução de tarifas aplicadas sobre produtos brasileiros e a revogação de sanções impostas a autoridades do Brasil. O Planalto divulgou uma nota oficial detalhando os pedidos feitos por Lula durante a chamada.
A seguir, os principais pontos da conversa, os desafios à carta diplomática e os desdobramentos esperados:
O telefonema e os pedidos brasileiros
De acordo com o comunicado, o diálogo, que se estendeu por aproximadamente 30 minutos em tom amistoso, terminou com a sinalização de um encontro pessoal nos próximos meses.
Durante a ligação, Lula pediu explicitamente que o governo americano retire:
- a sobretaxa de 40% imposta a produtos brasileiros;
- as medidas restritivas e sanções aplicadas contra autoridades brasileiras.
Segundo o comunicado oficial, Lula ressaltou que o Brasil é um dos três países do G20 com quem os Estados Unidos mantêm superávit na balança de bens e serviços — argumento usado como elemento de peso diplomático para mostrar que não se trata apenas de “pedidos econômicos”, mas de restabelecimento de relações “amistosas” entre as duas maiores democracias do Ocidente.
Trump, segundo o Planalto, designou o secretário de Estado Marco Rubio para conduzir as negociações com as autoridades brasileiras.
Lula também aventou a possibilidade de encontro bilateral em diferentes fóruns: na Cúpula da ASEAN, na Malásia, ou mesmo em Washington, e reiterou convite para Trump participar da COP30, marcada para ocorrer em Belém (PA).
Na comitiva que acompanhou a conversa estavam: o vice-presidente Geraldo Alckmin; o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira; o ministro da Fazenda, Fernando Haddad; o ministro da Comunicação Social, Sidônio Palmeira; e o assessor especial Celso Amorim.
Contexto e antecedentes
As tarifas de 40% mencionadas por Lula, conforme o relato oficial, representam uma medida de proteção ou retaliação comercial específica do governo dos EUA contra produtos brasileiros. O Brasil vinha enfrentando pressão comercial e barreiras tarifárias em algumas linhas de exportação para os Estados Unidos. O termo “tarifaço” alude justamente ao peso elevado dessas taxas que oneram produtos brasileiros no mercado americano.
Além disso, as sanções contra autoridades brasileiras foram estabelecidas e mantidas em períodos anteriores, por razões variadas que podem incluir violações de leis internacionais, disputas ambientais, direitos humanos ou controles de governança — medidas estas que se tornam obstáculos diplomáticos notáveis.
A comunicação oficial do Planalto enfatiza uma estratégia de reforço à diplomacia comercial, buscando não apenas aliviar o custo tarifário para exportadores, mas também restabelecer canais de interlocução institucional com Washington.
Desafios à reversão
Embora a iniciativa seja simbólica e alinhada ao interesse de retomada de relações multilaterais, há desafios práticos e políticos que podem dificultar o êxito do pedido:
- Base legislativa e política nos EUA
Muitas tarifas e sanções são impostas via legislação doméstica ou por deliberações regulatórias que não dependem exclusivamente da vontade do presidente. A reversão pode exigir a aprovação do Congresso ou de instâncias regulatórias federais. - Reciprocidade diplomática e pressão internacional
Os EUA podem exigir concessões em contrapartida nos temas de propriedade intelectual, meio ambiente, segurança ou alinhamentos geopolíticos. Negociar a retirada total de tarifas pode implicar contrapartidas que o governo brasileiro terá de avaliar politicamente. - Resistência interna nos EUA
Grupos econômicos e industriais americanos que se beneficiam da proteção tarifária podem se opor a reabrir o mercado brasileiro, alegando competição injusta ou necessidade de proteger a produção local. - Credibilidade e continuidade
A mudança de governo e de administrações pode tornar acordos diplomáticos frágeis. Uma promessa feita via telefone exige estruturas institucionais que concretizem o compromisso. - Tempo e mediação técnica
Mesmo com vontade política, a negociação de tarifas e sanções costuma demandar prazos longos, estudos de impacto, consultas técnicas e rodadas de negociação entre agências econômicas e diplomáticas.
Possíveis cenários e impactos
Se a iniciativa for bem-sucedida, pode trazer ganhos imediatos ao setor exportador brasileiro, que deixaria de arcar com sobretaxas de 40 %, tornando seus produtos mais competitivos no mercado americano. Também reforçaria a imagem diplomática do Brasil como interlocutor confiável e disposto ao diálogo internacional.
Por outro lado, se o pedido não avançar ou for tratado parcialmente, o governo brasileiro pode enfrentar críticas de que falta força diplomática ou resultados tangíveis. Além disso, setores exportadores já penalizados podem sofrer com instabilidade nas expectativas de mercados.
No cenário intermediário, pode ocorrer uma retirada gradual de tarifas ou sanções, acompanhada de negociações setoriais (agropecuária, indústria, biocombustíveis etc.), com etapas escalonadas e cláusulas de cumprimento.
O que observar daqui para frente
- Se o governo dos EUA, via Marco Rubio ou outro canal diplomático, abrir uma interlocução formal com o Brasil para tratar especificamente dessas tarifas e sanções.
- Se haverá um encontro presencial entre Lula e Trump — seja na ASEAN, COP30 ou em Washington — para consolidar acordos diplomáticos.
- Se o Congresso americano será envolvido no processo ou se haverá requerimentos legislativos para apoiar a retirada tarifária.
- Como irão reagir as indústrias americanas afetadas pelas tarifas, bem como grupos econômicos que defendem restrições protecionistas.
- Se será lançado um cronograma ou roadmap público de negociações entre Brasil e EUA, e quando efeitos concretos poderão ser vislumbrados para exportadores brasileiros.
Ficou acordado que os líderes devem se reunir pessoalmente em breve. Lula propôs que a reunião aconteça durante a Cúpula da ASEAN, na Malásia, reforçou o convite para que Trump participe da COP30 em Belém e manifestou disposição de visitar Washington para um encontro oficial.
//Fontes: Planalto: GOV, BBC news, Agência Brasil e CNN Brasil.