Por Priscylla Silva
Sarampo: vírus pode permanecer no ar por até duas horas e infectar mesmo sem contato direto, alertam especialistas
Na Carolina do Sul, uma recente onda de casos de sarampo provocou uma medida drástica: 153 alunos sem comprovação de vacinação foram isolados por 21 dias após contato com ambiente onde circulou o vírus. A medida foi implementada nas escolas Global Academy of South Carolina e Fairforest Elementary, ambas no condado de Spartanburg, em resposta à confirmação de infecções ligadas ao surto local.
Os responsáveis pela saúde estadual confirmaram que, em 2025, 16 casos de sarampo foram reportados no estado — dos quais 12 estão diretamente associados ao surto na região de Upstate, onde está Spartanburg. Dos cinco novos casos, todos já estavam em quarentena no momento em que desenvolveram sintomas, o que evitou novas transmissões.
Origens e expansão do surto
O primeiro caso do ano no estado foi identificado em julho, após longa ausência de registros locais. Desde então, novos casos foram distribuídos pela região Upstate, com confirmação em Greenville como o 11º caso.
Em 2 de outubro, as autoridades estaduais declararam oficialmente o surto em Upstate, contabilizando oito casos naquele momento. O Departamento de Saúde da Carolina do Sul classifica o episódio como um surto, termo técnico usado quando há pelo menos três casos relacionados entre si.
Impacto escolar e resposta das instituições
Dos alunos colocados em quarentena, nenhum estava imunizado conforme os registros escolares. As escolas envolvidas adotaram ensino remoto para esses estudantes, enquanto autoridades de saúde monitoram o desenrolar do surto.
Segundo dados locais, as taxas de vacinação no condado de Spartanburg estão abaixo do esperado: menos de 90% dos estudantes teriam registros completos exigidos — número inferior à meta de 95% considerada ideal para imunidade coletiva. Isso favorece a expansão de infecções em ambientes escolares com grande fluxo de contato.
A epidemiologista-chefe do estado, Linda Bell, alertou que a detecção de casos em pessoas já em quarentena evidencia que o vírus está sendo transmitido de forma silenciosa e entra em comunidades onde a imunização não é adequada.
Por que o sarampo é tão contagioso?
O sarampo é considerado uma das doenças mais contagiosas do mundo porque basta uma quantidade mínima do vírus para causar infecção. Segundo o especialista Peter Hotez, apenas algumas partículas virais já são suficientes para contaminar uma pessoa suscetível.
A transmissão ocorre tanto pelo contato direto com gotículas respiratórias — liberadas quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou fala — quanto pelo ar contaminado, já que o vírus pode permanecer suspenso e ativo em superfícies por até duas horas após a saída do infectado, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
Por esse motivo, surtos podem se espalhar rapidamente em locais fechados, como escolas, restaurantes ou universidades. Hotez exemplifica que, quando um indivíduo contaminado frequenta diversos espaços — como campi universitários ou locais de alimentação —, há risco de que ele deixe um “rastro” invisível do vírus no ar. Assim, qualquer pessoa não vacinada que entre nesses ambientes em seguida pode se infectar, mesmo sem ter tido contato direto com o portador da doença.
Contexto nacional e razões para a escalada
O surto na Carolina do Sul insere-se em uma tendência alarmante nos EUA: até o momento, 1.563 casos confirmados de sarampo em 2025, distribuídos em 44 surtos nacionais. Essa cifra representa o maior número de infecções desde 1992. Aproximadamente 87% desses casos estão associados a surtos localizados.
Por que esse retorno? Especialistas apontam para queda nas taxas de vacinação infantil, aumento de objeções por motivos religiosos ou pessoais e enfraquecimento das redes de vigilância epidemiológica. Dr. Paul Offit, especialista em imunizações, enfatiza que o sarampo é uma das doenças humanas mais transmissíveis e que o retorno às salas de aula e aos meses frios são condições que favorecem a propagação.
Nos EUA, a taxa vacinal entre crianças em idade escolar (kindergarten) caiu para cerca de 92,7%, abaixo da barreira de 95% geralmente considerada segura para imunidade coletiva.
A crise desencadeada no condado de Spartanburg revela que mesmo doenças consideradas “eliminadas” podem ressurgir quando a proteção coletiva se fragiliza. A quarentena de mais de 150 alunos, o surgimento de casos em pessoas já isoladas e a propagação silenciosa em regiões vizinhas são sinais claros de alerta.
Para evitar que o sarampo retorne de forma permanente ao cenário americano, será necessário recuperar a confiança na vacinação, reforçar a vigilância epidemiológica e garantir acesso equitativo à imunização.
//Fontes: DPH SC; Time; Achei USA; Release